Moeda Unificada do Mercosul: Conheça as Vantagens e Desvantagens

Com Fernando Haddad como novo ministro da Fazenda, espera-se que alguns temas novos e outros já discutidos venham com evidência na agenda econômica do país. Um dos tópicos mais debatidos é a possível adoção de uma moeda comum para o Mercosul. Na primeira semana de janeiro, o ministro da Fazenda recebeu o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, para discutir vários assuntos relacionados à relação entre as nações.

Segundo Scioli, a adoção do câmbio tem como objetivo integrar o bloco econômico comercial e fortalecer os laços entre os países que compõem o Mercosul: Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela (suspensa até então). O diplomata também garantiu em uma coletiva de imprensa que “não significa que cada país não tenha sua própria moeda. Significa uma unidade para integração e aumento do intercâmbio comercial no bloco regional. E, como disse o presidente Lula, fortalecer o Mercosul e ampliar a união latino-americana é muito importante.”

imagem: reprodução/divulgação Unsplash

Fernando Haddad afirmou, em um evento de posse de Simone Tebet, que não há proposta para a criação de uma moeda única, semelhante ao Euro, por exemplo. No entanto, o projeto já foi discutido anteriormente nos primeiros governos do presidente Lula e na gestão passada liderada por Jair Bolsonaro. Mas seria vantajoso criar uma moeda única para o Mercosul? Vamos entender.

Uma moeda única é um modelo monetário no qual os países abrem mão de sua moeda atual em favor de uma mesma moeda oficial como meio de pagamento, usada para transações comerciais dentro e fora de suas fronteiras. Fabio Passos, CIO da gestora de investimentos CA Indosuez, afirma que a ideia não é nova e começou a ser discutida após o sucesso do Euro.

Entretanto, o analista político e especialista em economia e estratégia na London School of Economics and Political Science, Jeulliano Pedroso, explica que o impacto de uma moeda única do Mercosul dependeria do perfil adotado, mas que dificilmente beneficiaria o Brasil. Ele afirma que, como o Brasil é o país economicamente mais forte da América do Sul, ele seria o principal país de lastro (garantia de valor) da situação econômica e absorveria o risco de países menores. Além disso, o Brasil perderia o instrumento monetário de trabalhar a própria taxa de juros e de controlar a inflação se os países precisassem abrir mão de seus bancos centrais.

Pedroso também compara a situação do Brasil com as nações vizinhas que poderiam eventualmente aderir à nova moeda. Ele afirma: “Veja só, você tem inflações muito diferentes entre os países daqui da América do Sul. A Argentina tem um processo inflacionário muito mais acelerado do que o Brasil. A Venezuela, mesmo estando suspensa do Mercosul, também tem um processo inflacionário bem alto.

imagem: reprodução/divulgação Unsplash

Então você pensa que o Brasil teria que absorver tudo isso.” Mesmo que o real seja mantido em uma eventual adesão, Passos afirma que o modelo ainda não faria sentido, uma vez que o dólar tem grande influência como moeda transacional. Ele explica: “Se olharmos pela ótica atual de ser uma moeda transacional, não faz o mínimo sentido, dado que essa moeda transacional já existe: é o dólar! Então, não consigo entender o racional. No Caribe, por exemplo, existe uma moeda caribenha unindo alguns países… que é indexada ao dólar, aliás. Então, fazer uma moeda entre Argentina e Brasil acabaria indo pelo mesmo caminho. Uma moeda única como foi no Euro não faz sentido algum, como moeda transacional faz menos sentido ainda.”

Deixe um comentário